Bulimia

A bulimia nervosa é um transtorno alimentar complexo caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios inadequados. Este artigo explora os aspetos clínicos, etiológicos e terapêuticos da bulimia nervosa, com base em evidências científicas atuais.
Bulimia – Definição e Critérios Diagnóstico
A bulimia nervosa é definida por episódios repetidos de ingestão excessiva de alimentos num curto período, acompanhados por uma sensação de perda de controlo.
Esses episódios são seguidos por comportamentos compensatórios inapropriados, como vômitos autoinduzidos, uso abusivo de laxantes ou diuréticos, jejum prolongado ou exercícios físicos excessivos. Para o diagnóstico, esses comportamentos devem ocorrer, em média, pelo menos uma vez por semana durante três meses.
Bulimia – Epidemiologia
A bulimia nervosa afeta predominantemente adolescentes e mulheres jovens, embora possa ocorrer em qualquer idade ou gênero. Estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo inteiro sofram de algum transtorno alimentar, incluindo a bulimia nervosa.
Bulimia – Manifestações Clínicas
Os sintomas da bulimia nervosa incluem:
- Compulsão alimentar incontrolável
- Comportamentos compensatórios após as refeições
- Preocupação excessiva com peso e imagem corporal
- Flutuações de peso
- Complicações gastrointestinais
- Erosão do esmalte dentário
- Alterações eletrolíticas
As pessoas apresentam frequentemente peso normal ou ligeiramente acima do esperado, diferenciando-se da anorexia nervosa.
Bulimia – Etiologia
A etiologia da bulimia nervosa é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, neurobiológicos, psicológicos e socioculturais. Estudos sugerem uma interação complexa entre predisposição genética e influências ambientais.
Comorbidades
A bulimia nervosa coexiste frequentemente com outras condições psiquiátricas, como depressão, transtornos de ansiedade e abuso de substâncias. Essas comorbidades podem complicar o diagnóstico e o tratamento.
Complicações Médicas
As complicações físicas da bulimia nervosa podem ser graves e incluem:
- Desequilíbrios eletrolíticos
- Erosão do esmalte dentário
- Esofagite
- Ruptura gástrica (rara)
- Irregularidades menstruais
- Desidratação crônica
Abordagem Terapêutica
O tratamento da bulimia nervosa requer uma abordagem multidisciplinar, que inclui:
- Psicoterapia: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é considerada o tratamento de primeira linha. A terapia cognitivo-comportamental visa modificar padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos alimentares inadequados. A psicoterapia interpessoal também tem mostrado eficácia.
- Farmacoterapia: Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), particularmente a fluoxetina, têm demonstrado eficácia na redução dos episódios de compulsão alimentar e comportamentos compensatórios. A dose recomendada de fluoxetina para bulimia nervosa é de 60 mg por dia, superior à utilizada para depressão.
- Intervenção Nutricional: A reeducação alimentar é fundamental para estabelecer padrões alimentares saudáveis e regulares.
- Terapia Familiar: Especialmente importante no tratamento de adolescentes.
Prognóstico
O prognóstico da bulimia nervosa é variável. Estudos de seguimento a longo prazo indicam que aproximadamente 50% dos pacientes alcançam remissão completa, enquanto outros podem apresentar um curso crônico ou recorrente.
Conclusão
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar complexo com significativo impacto na saúde física e mental. O reconhecimento precoce e a intervenção multidisciplinar são cruciais para melhorar os resultados do tratamento. Pesquisas contínuas são necessárias para aprimorar a compreensão da etiologia da doença e desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes. A conscientização sobre a bulimia nervosa e outros transtornos alimentares é essencial para reduzir o estigma e promover a procura por tratamento. Os profissionais de saúde devem estar atentos aos sinais e sintomas da bulimia nervosa, facilitando o diagnóstico precoce e o encaminhamento adequado para tratamento especializado.